Agroflorestas – uma introdução

     Cada vez mais presentes na mídia, os sistemas agroflorestais representam grande diversidade de composições e abordagens e são extremamente versáteis, o que possibilita que sejam utilizados para diferentes objetivos. São os sistemas de maior potencial para agricultura orgânica, dada sua capacidade de recomposição da estrutura e fertilidade do solo, além dos inúmeros serviços ecossistêmicos que podem prover.

    Claro, que como todo sistema de cultivo, o sucesso depende inteiramente de um bom projeto e manejo. Nunca é demais ressaltar que a agricultura é uma das atividades que mais impactam o meio ambiente, e por isso é tão necessária a presença de técnicos qualificados – engenheiros agrônomos e florestais com ética e comprometimento. Mesmo que haja adoção de princípios agroflorestais no planejamento de sistemas produtivos, a complexidade que é o manejo do solo e dos biomas na atualidade torna a atividade muito delicada, exigindo total controle em cada etapa do projeto – análise de solos e suas potencialidades e limitações, preparo de solo, mecanização agrícola e florestal, manejo integrado de pragas e doenças, irrigação, integração à paisagem, entre outras.

    Os sistemas agroflorestais não podem ser um pacote tecnológico fechado em uma perspectiva agroecológica – cada localidade possui inúmeras particularidades que precisam ser analisadas cuidadosamente para o sucesso. Também é um fato que a agricultura, apesar de altamente lucrativa e necessária à sobrevivência de qualquer sociedade, é um negócio de risco, e as mudanças climáticas estão cada vez mais presentes, um fator determinante para atividade.

    Em síntese, existem características básicas que podem auxiliar na melhor compreensão das agroflorestas:

  • São caracterizadas por consórcios de plantas agrícolas e florestais;
  • Podem ter diversas composições e objetivos: olericultura, fruticultura, madeira, castanhas, fibras, oleaginosas, grãos, cereais, pastagens entre outras;
  • Permitem maior aproveitamento da área, com produtividades elevadas, ao tratar o solo e a parte aérea em suas três dimensões, e não só em termos de espaçamento entre linhas e entre plantas.
  • A energia solar é aproveitada ao máximo na aplicação de sistemas estratificados e biodiversos, assim como os recursos hídricos e fertilizantes.

 

Diversas classificações e abordagens estão emergindo, baseadas principalmente em sua composição e variação ao longo do tempo: agroflorestas sucessionais; estratificadas; biodiversas (ou diversificadas); hortas com árvores; sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF); cabrucas e capoeiras enriquecidas; cultivo em aléias (alley-cropping); florestas alimentícias (food-forests); extensivo itinerante (agricultura de corte e queima tradicional); sintrópicas etc;

A criatividade é o limite: todas plantas cultivadas tem aptidão para compor consórcios – algumas tem potencial de aplicação em sistemas complexos, outras, dificultariam os tratos culturais e portanto, são mais proveitosas em consórcios mais simples, com menor biodiversidade;

Plantas de origem savânica não costumam tolerar qualquer nível de sombreamento, e sua aplicação pressupõe uma abordagem distinta para plantas de origem florestal.

     Cada perfil de propriedade – seja familiar, comunitária/tradicional, média ou grande – apresenta uma série de condições que delimitam o melhor padrão de agrofloresta, seja ele:

  • Mecanizado, com irrigação, de material genético e infraestrutura altamente tecnológicos;
  • Com tecnologias sociais, e melhoramento genético de plantas tradicional e comunitário, com amplo emprego de mão de obra e com baixa mecanização; cultivo de plantas rústicas, menos dependentes de condições excepcionais de fertilidade e irrigação;
  • e uma série de nuances que permeiam essas duas abordagens limite.

 

Agroflorestas podem ser usadas para diminuir o tempo de retorno financeiro de cultivos perenes, como frutas e madeira. Apesar de representarem um investimento inicial maior, são sistemas resilientes, pouco dependentes de insumos externos e que cumprem uma série de funções regenerativas e serviços ecossistêmicos. Pesquisas econômicas estão à todo vapor, contabilizando financeiramente estes serviços, e demonstram taxas de retorno cada vez mais elevadas; além disso as agroflorestas possuem elevado potencial para restauração florestal de passivos ambientais com finalidade econômica.

A preocupação do terceiro setor e da sociedade civil com as mudanças climáticas e soberania alimentar, além de grandes empresas com seu ESG, e organizações governamentais e multilaterais, tem sido propulsoras das agroflorestas no Brasil e no mundo. Algumas iniciativas que trabalham neste sentido são a Aliança pela Bioeconomia Circular, fundada pelo Príncipe Charles da Inglaterra, o CIFOR/ICRAF, FAO/ONU, PretaTerra, Floresta S/A, Rede de Apoio a Mulheres Agroflorestoras, Instituto Socioambiental, entre muitas outras, inclusive nós, é claro. Ao mesmo tempo, alguns tipos de agrofloresta são praticados há séculos, senão milênios, por sociedades tradicionais, como indígenas, quilombolas e outras, o que demonstram, mais do que tudo, sua sustentabilidade. Nestes casos são também atreladas à geração de solos de horizontes superficiais antrópicos, as famosas Terras Pretas de Índio, uns dos mais férteis solos do mundo.

Continue nos acompanhando e amplie sua percepção sobre a agroecologia. Maior aprofundamento neste tema será fornecido em publicações futuras.

 

_por Mário Cadorin

REFERÊNCIAS E OUTRAS INICIATIVAS

https://socioambiental.org/

https://www.worldagroforestry.org/

https://www.wwf.org.br

https://circularbioeconomyalliance.org/

https://www.wribrasil.org.br/

https://pretaterra.com/

https://www.courageousland.com/

https://florestasa.com.br/

https://www.embrapa.br/meio-ambiente

https://www.instagram.com/rama.agroflorestoras/

https://revistapesquisa.fapesp.br/uma-origem-natural-das-terras-pretas-de-indio/

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